terça-feira, 19 de agosto de 2014

Silêncio...

O amor tem o som de uma porta se abrindo para alguém ser sempre bem-vindo a entrar e ficar. O que eu nunca pensei é que uma porta poderia ser por onde alguém sai para te deixar. Não tocou o som de nenhum alarme avisando que era a hora de despertar, pois você iria embora. Não me apareceu nenhuma opção "soneca", para eu te ter por mais dez minutos. Você foi embora, embora tudo o que eu sinto tenha ficado. Acordado tive que ficar a cada dia sem você, acordado, ainda que a cor dada não tenha sido aquela com a qual eu sonhei em pintar a vida que a gente ia ter. Coragem talvez seja agora a única cor que ajude a colorir a vida desde que eu não te tenho agora. Ainda que a minha cor preferida seja a cor verde, esperança cor verde de te ver de perto. E sem ti sentidos foram se perdendo, pois, quando alguém que se ama parte, a vida parece que fica sem sentido e sem sentidos, enquanto ressentido a gente espera pelo retorno. É o que a saudade faz, ressentir quando já não se pode re-sentir e a cada dia repetir a presença de alguém. Por um tempo seu cheiro ainda ficou, e eu podia me agarrar a alguma peça esquecida - enquanto você me esquecia. Eu sentia por dias o seu perfume, mas nenhuma fragancia traria de volta a essência de nós. Então nada mais teria aquele melhor cheiro - que ainda é o seu -, mas guardar o teu perfume seria camuflar o olfato ou o fato de que você não vai voltar? E quantos toques eu vou dar em outros corpos tentado tocar a minha vida adiante? Toquei várias portas na esperança de que, ao abrir alguma delas, eu fosse te reencontrar. Nada é mais macio como nossos melhores momentos e meu tato é agora só um lembrete de que tá tudo diferente. Talvez um pouco do brilho deixou de ser visto e o mundo esteja um pouco em câmera lenta. Em câmera lenta se vê o mundo e a vida, quando um amor parte e se torna lenda. E eu olhei cada esquina, em cada segredo que deixamos guardados por onde passamos, mas nunca com minha visão eu vi são o coração que eu te dei para morar. Troquei as visões por versões da vida nas quais você ainda esteja aqui. O tempo demora a ensinar o tempero para dar o gosto certo a um amor. Você aprende a fazer algo para quem você gosta amar, entende o que usar para dourar, mas como durar o tempo em que alguém te ama? E agora nada em meu palato para o ato de eu não sentir mais o mesmo gosto sem quem eu gosto. Mas de todos os meus sentidos o que mudou mesmo foi a audição. Você se foi e deixou o meu mundo mudo. Amor é barulho, saudade é silêncio. Não há mais o som do telefone com esperanças em forma de voz, não há mais o som das risadas que pareciam escolher viver entre nós. Não há mais o som do seu sono renovando o meu sonho, nem o tic-tac do relógio ansioso por mais um dia ao seu lado começar. Não ouço mais o som dos teus passos chegando e trazendo a alegria, apenas o som da esperança descendo mais um degrau a cada dia. Perdeu volume o som das nossas conversas com versos de musicar a força para enfrentar a vida. Silenciou o beijo, o abraço e aquele som da nossa roupa abrindo para nossos corpos tentarem se tornar um só (e a gente quase conseguia, lembra?). Meu mundo mudo ficou e como eu me mudo para onde eu posso falar? Tudo agora silencia, mas a saudade em mim grita. Mas a saudade em mim grita. Minha voz pode ir até onde minha saudade for, e ela vai a tudo, já que não te encontra em nada. A minha saudade é do tamanho do mundo e o problema é que esse mundo é grande demais. E em meio a este mundo mudo eu tento gritar que ainda não te esqueci. Ouço ou sou um pedido para você não me esquecer? O que importa é que qualquer porta, agora, porta o nome de esperança para quando você quiser passar. O meu amor ainda tem o som de uma voz te chamando para voltar, você poderia ouvir ou vir?